sábado, 3 de fevereiro de 2024

 





O falso positivo da saúde


Há uma máxima no mundo, todos procuram um culpado em tudo. Chamamos isso na nossa empresa de falso positivo. Até que haja provas suficientes, não podemos atribuir culpados a causas sem que as provas sejam suficientemente boas, até lá chamamos de falso positivo.

A saúde enfrenta um problema sério hoje. Falso.

A saúde enfrenta um problema sério, sempre.

Há 20 anos eu fazia um evento na Ilha de Comandatuba e no palco estavam comigo o presidente de um dos maiores hospitais do país, outro presidente de um grupo se formando, outro de uma seguradora e outro representando uma agência regulatória. Todos, sem exceção reconheciam a crise iminente e preparavam o que chamamos na época de agenda positiva. Algo como: vamos falar algo bonito aqui, mas temos quase certeza de que não vai funcionar.

Há 3 meses num evento a tal agenda positiva apareceu novamente. Deja vu?

Hoje olho e vejo que o nosso maior mal é tentar encontrar culpado e não olhar para o problema de frente.

Durante anos todos reclamavam, mas todos recebiam sua parte do bolo. Hoje, com a consolidação, não mais.

Se colocarmos numa parede uma operadora verticalizada, uma seguradora, uma unimed, um médico, um hospital, um laboratório, uma indústria farmacêutica, uma enfermeira e um paciente e mandarmos você matar 3 quem seriam?

Provavelmente paciente, enfermeiro e médico seriam poupados.

Seria certo?

Pacientes, a rigor da lei e da cultura impregnada usam planos como se fossem cheques em branco, realizando visitas inesperadas a prontos atendimentos na busca de atestados, as chamadas fichas brancas (acredita-se que seja algo como 30% dos atendimentos), causando um rombo sem igual no sistema, que para atender a isso criam pronto atendimentos lotados de médicos pjs, que fazem milhões de plantões para pagar contas que criaram, pois, a faculdade não os ensinou a fazer planejamento financeiro. Esses mesmos médicos, criados num sistema que premia a performance financeira e não o fechamento com menor custo para o paciente são amplamente glosados por operadoras que o fazem para manter suas contas em dia e que não aprenderam a gerir custo de saúde, e sim a vender e glosar.

O perfeito caos.

Todo mundo está errado. 

Terapia em grupo nos faria mais felizes e saudáveis do que discutir o modelo. Nos fechamos em grupos para validar nossas teses enquanto o custo explode.

O governo terceirizou a brincadeira para poder pagar quando quer e pode para agentes que financiam o setor.

Estamos diante do maior rouba monte já criado.

Grupos grandes se unindo para sobreviver e crescer e os pequenos quebrando.

Estou em grupos de wtsp de médicos, hospitais, planos e em cada um temos um culpado.

Ninguém discute com maturidade o negócio.

Minto.

Alguns, sim, e esses estão criando valor nos negócios e perpetuando a ideia de sustentabilidade.

Mas são raros, poucos e não tem tanta atenção assim como deveriam.


Como cada texto carece de um fechamento deixo o meu.

Segundo a sabedoria milenar budista o crescimento vem do espelho e não da janela.

Vamos olhar para cada um e perguntar: o que estou fazendo de errado.

Recentemente ouvi de um presidente de um dos maiores hospitais do Brasil. Quero visitar os pequenos e aprender com eles. Quem disse que sabemos tudo?

Pronto, um a menos na lista dos que reclama e não fazem nada pelo setor.

Bora enfrentar o espelho de uma vez por todas e fazer o mundo ser um pouquinho melhor.

 A saúde agradece e os negócios mais ainda.



Alberto leite


quarta-feira, 1 de abril de 2020

Como o amor



Há um parquinho a 100 metros de casa. Fui uma meia dúzia de vezes com a Julia lá. Ela não para de me pedir pra voltar.
Do lado há uma piscina e um clube do condomínio. Ela ama a piscina, parece uma praia, com muita segurança. A gente começou a frequentar uma semana antes do covid.
Há um lago aqui perto. A gente nunca foi.

Quando tudo isso acabar talvez...

A gente volte todos os dias no parquinho
A gente tome sol todos os dias após o trabalho já que o sol se põe as 8 da noite aqui
A gente ande de barco no lago
A gente curta mais caminhar no condomínio
A gente marque mais reuniões de amigos e se interesse em conversar com eles pessoalmente
A gente olhe mais para as paisagens que tem perto de casa
As de longe também
A gente visite mais a praia
Viaje mais e curta mais os lugares com pessoas
Vá mais aos bares de música ao vivo
Ao cinema
Ao teatro
Aos museus
A gente curta até mesmo ir aos parques de diversão
E aos parques comuns, aqueles que hoje em dia só são permitidos sozinho
A gente converse mais sobre nós e menos sobre um vírus
A gente curta mais o tempo que tem e menos o cronograma da quarentena
A gente dê mais atenção aos negócios que envolvem encontro presencial
A gente visite amigos antigos
Os novos
A gente veja filmes sem a tensão
Encoste um no outro sem a tensão
Cumprimente como gostamos de cumprimentar
A gente dê mais valor para as professoras dos nossos filhos pequenos
A gente dê a importância que merece para a escola
A gente consiga entender a razão da divergência para o alcance da convergência
A gente entenda que para cada objetivo há um meio
Tem coisa que é por telefone, tem coisa que é por wtsp
Tem coisa que é em reunião, tem coisa que é ao vivo
Tem coisa que merece um aperto de mão
Tem coisa que merece juntar dinheiro, ir à joalheria e comprar
Ajoelhar e pedir
E sonhar que a resposta será sim
A gente olhe para o lado e veja a beleza de quem vive conosco
Que o pó sumiu dos céus e que a luz brilhou novamente
A gente entenda de uma vez por todas a força que a fé tem
A espiritualidade
E que a religião é só uma definição pragmática de seus medos
E sua escolha sobre seus salvadores
A gente entenda que há mais dentro de nós do que imaginávamos
E que o invisível sim pode nos afetar
Como um vírus
Como o ar
Como o amor

Alberto Leite

terça-feira, 10 de novembro de 2015

A busca por você mesmo



Lembro-me de muito pouco tempo atrás quando uma campanha era lançada. Não sei se porque vim da área, sou da área, mas sempre prestei atenção na mensagem e sua conexão com o que a empresa verdadeiramente entregava. Nunca vi uma empresa prometer algo e entregar mais do que prometia.

De repente aparece no mundo as empresas focadas em experiências. Quando imaginamos experiências imaginamos empresas que prometem algo e entregam muito mais.

Chamo isso de marketing e anti-marketing.

Vamos falar de anti-marketing. Anti-marketing é o ato de olhar para o bolso do cliente, ver que lá tem 10, vender por 8 e entregar 6. Quem faz isso hoje em dia são as operadoras de telefonia celular. Dão descontos quando na verdade deveriam dar é um bom 4g. As pessoas até pagariam mais, mas para que?

Empresas de internet são assim também.

Marketing é aquele que a empresa enxerga seus 10, mas te vende algo por 12. Voce pega 2 emprestados para comprar e ela te entrega 15. Quem faz isso hoje são empresas como Apple, Samsung, google.

Incrivelmente todas essas empresas passam por uma enorme discussão sobre o que querem no futuro. O futuro vale mais do que qualquer coisa. Valuation, Stock, equity, essas sim são as palavras que o CEO deve levar em consideração e não faturamento e receita. Essas são as fáceis de olhar.

CEOs do futuro olham para o que ninguém ainda viu e os conectam com suas missões, criam visões adequadas e na hora de entregar observam seus valores. Criam produtos adequados com esses valores, comunicam aos clientes suas visões, a razão de existirem e em seguida cobram por isso.

A Disney sabe fazer isso. Voce entra num parque que custa US$ 90 por pessoa. Gasta mais US$ 200 lá dentro e tem a impressão de que te fizeram um enorme favor te deixando entrar lá dentro.
A universal corre para fazer o mesmo.

O Bush Gardens é só um parque. Nada mais do que isso. Ao sair voce pensa seriamente no que fez. Se não gosta de montanha russa ou bichos chora por ter perdido US$ 120.
Recentemente a Samsung lançou uma campanha que diz que a Samsung quer lançar voce. A campanha mostra pessoas comuns se transformando em seus verdadeiros sonhos utilizando produtos Samsung. Sem dúvida nenhuma uma das melhores campanhas já vistas. Transforme-se em voce mesmo no futuro com Samsung. Linda, emocional, conectada.

A música é linda, a voz é suave, o ritmo é audacioso, as pessoas são comuns, os lugares não tão comuns, a direção de arte sublime, os personagens são do mundo todo e assim a campanha mostra que dentro ou fora de casa a Samsung acompanha você por onde você for, no caminho de ser você mesmo.

Em resumo acredito que se você tinha 10 para comprar algo, você pegaria 2 emprestados com alguém simplesmente pelo fato de conseguir com míseros 12 alcançar seu maior sonho: ser você mesmo no futuro. 

O seu futuro.

Pense nisso.

sábado, 7 de novembro de 2015

De volta para o futuro



Foto by Pixicast.com



Bom, chegamos a 2015. Parecia muito distante quando ouvi pela primeira vez sobre esse ano. O ano era 1982 e um jovem guitarrista e skatista viajava com um velho louco num Delorean para 2015 procurando saber sobre o futuro.
Lá chegando encontravam carros voando, postos de combustível atendidos somente por robôs e uma infinidade de coisas novas, como um tênis nike que amarrava sozinho.
Pensei muito sobre isso em 1982. Como será 2015? Eu tinha 7 anos e estava num cinema na praia assistindo a tudo aquilo com amigos. Um deles, que nos levou até lá, tinha 18 anos e um opala com muita coisa eletrônica, mas definitivamente passava longe do que temos hoje.
Em 30 anos vi o mundo mudar, vi anúncios serem feitos, vi carros serem desenvolvidos, porém vi que muita coisa andou para a frente, e muita coisa para trás.
Naquele tempo, há 30 anos atrás, os carros, assim como em 1890, tinham 4 pneus, nele cabiam 4 pessoas, a velocidade média era de 20 km/h e tinham um motor um pouco barulhento. Com exceção do barulho, nada mudou. Os carros são confortáveis,  tem ar condicionado, direção hidráulica, são silenciosos, tem estofados macios, que esquentam, mas sua função na sociedade não mudou. Chego em 2015 frustrado com os carros que temos, depois de bilhões investidos em P&D nessa área. Nem a baliza conseguiram resolver. Parecia simples acionarmos o modo estacionamento e o carro virar suas rodinhas em alguns graus, suficientes para o carro se adaptar a uma vaga. A baliza ainda é necessária, mesmo após 100 anos de estudos.
O que quero dizer com isso, meus amigos, é que a evolução maior ocorreu em outro campo. Temos evoluções no campo da tecnologia da informação, com a introdução da rede e dos inúmeros dispositivos conectados a ela e no campo da genética, onde parece que há um outro planeta a ser desvendado.
Os recentes estudos no campo e as mais novas descobertas com o uso de células tronco, mapas genomicos, impressão de tecidos, previsão de doenças, estudos na área química, física, esses sim tem possibilitado olharmos o mundo de forma diferente.
Na área da saúde isso modificará de forma intensa a nossa agenda da saúde, com a introdução de nossos elementos, que colocarão em cheque até a nossa capacidade de ir a um médico. Com a chegada do google, os médicos tiveram que se adaptar a um paciente mais informado, talvez não mais qualificado, mas antenado a palavras que anteriormente tinham um saber exclusivo.
A evolução na área genética nos possibilita olhar para frente com menos medo de palavras ruins como câncer por exemplo, e nos identificar com a previsibilidade das inúmeras disfunções que por ventura podem nos afligir.
Imagino que daqui a 30 anos olharemos para o passado com outros olhos, serão anos de mudanças bruscas em nosso sistema, assim como ocorreu nos meios das comunicações. Haverá mudança no status quo. Mudanças essas que ocasionarão a transformação do que temos hoje com a chegada de novas oportunidades de trabalho, menor fronteira entre o paciente e o médico, criação de novas palavras, conceitos. Haverá sim a discussão produtiva sobre modelos de negócios positivos e sustentáveis que suportem a mudança.
Haverá sim um espaço pequeno para palavras como corrupção e quaisquer desvios éticos.
Haverá sim carros voando, mas isso é outra história.